27 junho 2011

Ato Político

Tenho recebido mensagens com comentários sobre o blog e sugestões de assuntos para que eu faça comentários. O que me cobram são comentários políticos, ou sobre a vida massacrante que todos levamos, escravos de compromissos massantes, ou sobre o cotidiano das pessoas que vivem nas grandes cidades. Tudo por culpa da maldita frase: relaxa e goza, um paradoxo, pois o correto para nós homens é goza e relaxa. Não quero mais falar sobre isso, senão não me sobrará energia suficiente para o exercício do gozo, talvez somente para o relaxamento.
Este blog é dedicado à literatura, ou à realidade vista pela óptica da literatura, da arte, pois para comentários políticos os jornais, revistas e canais de tevê possuem profissionais mais competentes e informados do que eu. Escrevo para promover os livros que escrevo e os dos amigos. Nunca pensei em fazer comentários políticos sobre qualquer assunto, até porque não acredito nesse tipo de política de eterna predação do meio-ambiente como forma de gerir as sociedades.
Busquei a palavra política no dicionário e encontrei: ciência do governo dos povos, arte de dirigir as relações entre os estados. Princípios políticos: astúcia, artifício, civilidade e maneira hábil de agir. A única virtude que encontrei nessa definição é civilidade, pois o restante indica claramente que a política é a arte de passar a perna nos outros. Eu seria político se o sinônimo de política fosse bom-senso. A melhor explicação que tenho para a palavra política é: como atingir o poder e fazer a minha vontade suplantar a do outro. Política e políticos, e quem crê tanto nela quanto neles, têm um único objetivo: atingir o poder e nele se perpetuar. O preço pouco importa. A palavra política vem de polis, palavra grega que significa cidade, política é algo urbano. Também não acredito nas cidades tal como estão postas: gastos exorbitantes de energia, produção monumental de lixo e merda. Quanto maior a cidade, maior é a merda.
Algumas pessoas que enviaram mensagens informam que têm qualidade de vida baixa por conta de compromissos, do governo que não dá jeito no trânsito de São Paulo, ou Rio, ou BH, ou Porto Alegre. Quem pode dar jeito em cidades como estas? O sistema está montado para vender carros, em São Paulo, a cada dia, 600 novos veículos são licenciados. Culpar quem? A ideologia do governo? O partido político? O sistema é comprar, comprar, comprar, então pare de comprar.
A única solução é individual: mude de cidade, ande de bicicleta, ou de ônibus. Desculpas do tipo: não faço, porque de que adianta eu fazer se os outros não fazem? A responsabilidade é individual, tente mudar individualmente, é muito mais difícil do que culpar o governo, ou o atraso do ônibus, ou o salário, ou a falta de tempo etc. Conheço muitas pessoas que, com esforço e coragem, fizeram grandes mudanças em suas vidas e diminuíram enomemente o estresse do dia-a-dia, um deles sou eu.
Por favor: ou literatura, ou música, ou futebol, ou carnaval, não quero me estressar.

27/06/2011

20 junho 2011

Haroldo de Campos Galaxias Crisantempo

Li Galáxias há muitos anos, logo que foi lançado, se não me engano 1986 ou 87. Na época comecei a ler o texto pelo começo, que começa assim: e começo aqui e este começo e recomeço... E por aí vai até a últimas palavras em italiano: ...della doppia danza. A experiência é desconcertante para quem busca o nexo, falo no sentido semântico mesmo. Daí passei a ler páginas escolhidas aleatoriamente: o que ajuda esse tipo de leitura é o fato de as páginas não serem numeradas, é abrir e simplesmente ler, para se retornar a uma página lida, deve-se buscar pela palavra e não pelo número da página. Li não como quem lê poemas e espera um ritmo que lhe salte aos olhos, pois a página não é um poema, é um emaranhado de memórias caóticas, situações, lugares, como se se estivesse num trem em alta velocidade que em poucos minutos passa pelo Marrocos, cruza a Espanha, sobe a alguma constelação, mergulha no mar e sai numa caixa de laranjas podres. É uma poesia em alta velocidade que não sai do lugar, que não veio de nenhum lugar. Essa viagem não tem e nem busca nexo. Não pode ser chamada de fluxo de consciência, porque fluxo indica caminho com sentido e direção, mesmo que esta última mude constantemente, mas no texto de Haroldo a viagem é parada, imóvel, às vezes tem-se a sensação de que as palavras querem correr, mas ficam estáticas. Ler aos poucos é também desconcertante. Experimentei um pé de página, depois saltei várias páginas e li um miolo de página. Neste livro Haroldo abandona a concretude poética e, a mim pareceu, que buscou a catarse poética, no sentido grego de purgação, de purificação. Tudo não faz sentido, mas quem busca sentido?
Esta semana comecei a ler Crisantempo, do mesmo autor, este um livro de poemas, editado em 1998. Li aqui, li ali. Pulei páginas e lá estão seus encontros com Octavio Paz, Roman Jakobson, Ezra Pound. O livro é repleto de signos japoneses, zen-budismos, finezas & grossuras, greguices, latinices. Copiando alguém, que não sei quem, porém com sentido inverso: ainda não li, mas já gostei.

20/06/2011

15 junho 2011

Geração em literatura

Caramba, me esqueci que tinha mais um filho. Nasceu dia 1º de Maio. Ele quer comida - pode ser arial ou times new roman -, quer roupa - alguns parágrafos bastam -, o problema é esse querer sem fim, me arrumei um compromisso sem querer. Meu novo filho chama-se BLOG.
Veio junho e eu me entreguei à preguiça. Eu sabia que esse negócio de escrever em blog é mais ou menos como escrever para jornal, quero dizer bem mais para menos, porque escrevo no blog se quero, o jornalista não pode ter esse direito de querer ou não, pois é o ganha-pão do cara.
Andei lendo O Guardador de Águas de Manoel de Barros, poeta matogrossense contemporâneo da "Geração de 45", mas que a ela não pertencia, apesar de queriam o enquadrar nessa coisa de geração. Algumas perguntas e idéias me ocorreram.
Primeiro o livro e o poeta e depois a geração.
O livro é repleto de água, como o nome diz, mas não de água limpa e cristalina, mas de água servida, suja, às vezes lodosa, as coisas são antes desmolhadas do que molhadas, na visão do poeta, antes cheias de limo do que lustrosas. Águas pantaneiras barrentas. Manoel de Barros era o poeta preferido de Drummond, que dizia que ele era o grande poeta do Brasil. Drummond, por sinal ou por minha sina, permitiu que eu nascesse no mesmo dia em que ele nasceu porém 51 anos depois.
Essa coisa de geração acho uma bobagem. Nunca entendi porque têm de se agrupar os escritores em gerações, muito até gostam disso. Escrever é um ato político de solidão, então o que interessa o que os outros escrevem? Quem segue alguma tendência coloca freio no que faz. Ainda bem que comecei a escrever depois de velho, assim sou de todas as gerações desde que nasci. Aliás me identifico mais com as degenerações dos escritores do que com gerações. Estava lendo Sêneca, um de meus filósofos preferidos, o cara era avançado em sua época e atual sempre, ele é de minha geração então.
Outra bobagem ouvi de uma escritora esta semana. Ela lançou um romance e disse que a cada fala da narradora era como se ela recebesse uma facada no bucho. Que sofreu uma barbaridade escrevendo o livro, foram meses de sofrimento em cima de sofrimento. Já ouvi de vários escritores esse tipo de asneira. Se eu tivesse que sofrer para escrever, ou fazer qualquer coisa, eu não o faria. Imagino essa escritora chorando e encharcando o teclado do computador, ou se escreve à mão, com caneta, enxugando o papel com mata-borrão. Que coisa besta: já não chega o sofrimento que a vida nos impõe, ainda vai o (a ) escritor (a) sofrer para escrever. Vou ler Manoel de Barros, ou Sêneca, ou Boécio. Este último escreveu A Consolação da Filosofia na prisão, enquanto aguardava o cumprimento da sentença que o condenava à morte, nada há nesta obra de triste, de funesto, de choramingança e de sofrimento, ele aguardou a execução da sentença com serenidade, sabedoria e bom humor, assim como Sócrates tomara a cicuta de forma tão natural e desapegada. Não me interessa ler texto de quem sofre para escrever, duvido que saia algo que possa me interessar como a obra destes que citei.

15/06/2011