31 dezembro 2011

Milton dos Santos

Como falei de George Harrison, pelos dez anos de sua morte, por este mesmo motivo falo de Milton dos Santos. Morreu em 2001.
Ele era formado em Direito, porém estudou Geografia e se notabilizou mundialmente como geógrafo, sendo professor na Sorbonne.
Sei pouco dele, assisti a duas palestras e algumas entrevistas na tevê, era um cara lúcido, e uma grande inteligência. Com esses dois atributos, é certo que seria vítima da ditadura militar, passou mais de dez anos fora do Brasil depois de ficar preso. Conquistou vários prêmios internacionais e títulos de Doutor Honoris Causa, escreveu vários livros, dentre eles O Espaço Dividido, conhecido mundialmente como o melhor livro sobre urbanização de cidades da América Latina. Lecionou na USP e na UFRJ.
Um dos últimos grandes intelectuais brasileiros, eu o considero como sendo o único filósofo brasileiro, pois foi um grande pensador, com uma amplitude de visão digna de um filósofo.
Fica aqui minha homenagem ao Professor Doutor Milton dos Santos, talvez o maior pensador e intelectual brasileiro de todos os tempos.

19 dezembro 2011

+ Futebol

Domingo, minhas teses sobre futebol ficaram comprovadas com a vitória do Barça sobre o pobre Santos. Fiquei contente, não pela derrota do time do Santos, que é muito ruim, mas porque percebi que minhas opiniões sobre o fenecimento do futebol brasileiro estão corretas.
Qualquer outro time brasileiro que jogasse com o Barcelona teria destino semelhante ao Santos. Os espanhóis jogam como jogava a seleção brasileira de 1970 e de 1982 e o Santos joga como time europeu antigo. Os espanhóis trocam passes o tempo todo, até os defensores trocam passes, nem o goleiro dá aquele chute característico para o campo adversário, ele passa a bola para o defensor mais próximo e a bola vai de pé a pé até o ataque. Fora isso a qualidade dos jogadores é muito superior à dos brasileiros.
O fato de nossos jogadores serem de segunda linha leva a CBF a marcar amistosos com times como Gana, sem expressão nem na África, e não marcar amistosos com seleções tradicionais.
Messi: além de ser um craque, ajuda o time correndo de um lado para outro para tentar tirar a bola do adversário, diferentemente do que fazem os brasileiros que se excedem em individualismo e se limitam a fazer caretas, mas não se doam ao conjunto.
Técnico Muirici: é o espelho dos técnicos brasileiros modernos. Antigamente os técnicos montavam estratagemas para ganhar, os técnicos brasileiros modernos armam o time para não perder, assim como faziam os europeus, antigamente, quando jogavam com o Brasil, ele colocou muitos defensores e dois atacantes.
Porque Messi não tem o mesmo desempenho que tem no Barça quando joga pela seleção argentina? Simples: a seleção argentina é tão ruim quanto a brasileira e não tem jogadores com a qualidade dos jogadores do Barcelona. Se Brasil ou Argentina jogassem contra o Barcelona, teriam o mesmo destino do Santos.
Entrevista do técnico Guardiola a um repórter brasileiro:
- Nós jogamos como vocês jogavam antigamente.
Como a seleção espanhola utiliza quase todos os jogadores do Barcelona, prevejo que, na copa de 2014 no Brasil, apresentem futebol semelhante. Como até a copa nada vai mudar, já elegi minha seleção favorita: Espanha, a seleção de futebol mais brasileira que há.

06 dezembro 2011

Sócrates x Corinthians

Sócrates morreu de cirrose no sábado e domingo o Corinthians foi campeão brasileiro com um time de segunda linha, como de resto são os outros times do campeonato brasileiro.
Lamento o sofrimento de Sócrates com a doença, lamento o sofrimento de qualquer pessoa, aliás.
Vi o início da carreira do doutor, lembro dele no Botafogo e jogando futebol de salão pela Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto.
No Corinthians foi o artífice da Democracia Corinthiana, termo cunhado pelo publicitário Washington Olivetto para o modelo de auto-gestão criado pelo doutor. Os "democratas" mais ativos, além do doutor, eram Vladimir, Zenom e Casagrande. O técnico era Mário Travaglini, que escalava o time em consenso com os jogadores. As contratações eram feitas somente com aval do grupo. Em 1982, a diretoria queria contratar o goleiro Leão, esse que é técnico do São Paulo atualmente, que apesar de grande goleiro sempre foi conhecido como encrenqueiro e de caráter duvidoso. Ele foi chamado para uma conversa com os quatro e disse que se enquadraria no esquema democrático, mas tão logo foi contratado, aliou-se a Vicente Mateus, que naquele momento fazia oposição, e passou a fazer campanha contra a "Democracia Corinthiana".
O diretor de futebol era o sociólogo da USP Adilson Monteiro Alves, que participou até das campanha das diretas e atualmente é dono de máquinas de jogo de azar, é incrível, mas é verdade. Esta foi uma grande decepção para todos os corinthianos.
Sócrates era um jogador fora de série em qualquer contexto do futebol, não se submetia a ninguém, fazia gols e vibrava pouco, pois sabia que o futebol era usado pelos militares da ditadura para iludir as pessoas com ideias ufanistas que ainda perduram. Era um jogador maldito, mas todos o queriam pela genialidade do seu futebol.
E por falar em maldito: ele não sabe, mas eu sei que sou primo do Afonsinho, ainda que em segundo grau. Ele foi um dos maiores jogadores da história do Botafogo do Rio, coincidentemente também é médico. Foi do XV de Novembro de Jaú para o Botafogo. Foi amigo de Sócrates. Não esteve nas copas de 70 e 74 porque o general Médici escalava as seleções, ou dava palpites, e Afonsinho, apesar de craque, não tinha o perfil exigido na época, ele moveu um processo trabalhista contra o Botafogo e ganhou direito de não mais ser escravo do clube, ninguém quer um contestador num time de futebol. Mais tarde, foi contratado pelo Santos para substituir Pelé.
Apesar do time pífio continuo corinthiano, apesar de toda a safadeza dos diretores dos clubes e da CBF, continuo gostando de futebol. Eu era sócio do Corinthians e até minha primeira namorada, em 1969, arrumei no clube.
Da década de 1960 até hoje vi todos os grande jogadores brasileiros e afirmo sem medo de errar que nunca tivemos uma seleção tão ruim e uma geração tão pobre de talentos. Acho que por isto são evangélicos, como não jogam nada, ficam à espera de milagres que jamais acontecem. Que saudade de Gérson, Almir "O Pernambuquinho", Mário Sérgio "O Rei do Gatilho", fora com os bonzinhos e caretas que não jogam nada.
No jogo final contra o Palmeiras, os zagueiros dos dois times, mesmo quando o adversário mais próximo estava havia mais de 20 metros de distância metiam o pé na bola sem dó e a mandavam para fora, por medo de matar a bola de canela, talvez. E pensar que vi Djalma Santos com a camisa do Palmeiras, Roberto Dias com a do São Paulo, só para citar alguns zagueiros craques.

Corinthians Campeão Brasileiro de 2011, é o que importa.

30 novembro 2011

George Harrison

Ontem, 29/11/2011, fez 10 anos que ele morreu.
Não foi um grande guitarrista, pelo contrário, eu o achava ruim. Um guitarrista de banda de colégio. Assim como Paul e John eram pianistas ruins, tanto que nas gravações o pianista era Billy Preston, considerado o quinto beatle. Naquele filme em que eles tocam no telhado da gravadora Apple, ao piano está Billy Preston.
Na música While My Guitar Gently Weeps o solo fica por conta de Eric Clapton, porém no disco o nome dele não aparece.
Ser ou não virtuoso em algum instrumento não significa ser ou não bom compositor. Paul e John eram ótimos compositores e muito produtivos, George produzia menos, mas mesmo assim fez verdadeiras obras-primas como I Need You, I Saw Her Standing There, Something, Here Comes The Sun e outras, além do hino dos guitarristas While My Guitar Gently Weeps.
George colocou a cítara indiana na música dos Beatles e consequentemente na música popular. David Crosby, que em 67 ou 68 havia saído do The Byrds e formado o trio Crosby, Stills and Nash ( Neil Young se juntou ao trio um ano depois ), apresentou George a Ravi Shankar que chegou a participar de algumas gravações dos Beatles.
No Youtube existe uma série de versões de While My Guitar Gently Weeps, inclusive a minha em ritmo de samba. Conversando com meu amigo Márcio Bueno, de Porto Alegre, eu lhe disse que a melhor é a do Paul Gilbert, mas ele contestou e disse que o melhor solo é o do Prince, numa homenagem que fizeram a George há uns 5 anos, o garoto que toca violão ao fundo é filho do George. Concordo com Márcio: em primeiro Prince, em segundo Paul Gilbert, e eu estou na briga pelo terceiro lugar contra Steve Lukater, Eric Clapton, Jeff Healey entre outros.
Porra, acho que exagerei. Já dei uma cacetada no ego, ele que se acalme.

17 novembro 2011

Hoje é 17/11/2011

e me lembrei deste blog, que, como já disse no primeiro texto aqui publicado, é um filho que exige textos, dedicação, mas sou desleixado e esquecido.
Para variar, publico abaixo um poema da jornalista, apresentadora de tevê e poeta Juliana Wexel.

EU QUERO UM LEXOTAN

Um lexotan, por favor!
Um lexotan, por favor,
pelas palavras bonitas presas na garganta impedidas de serem ditas pelo orgulho vão.

Um lexotan, por favor,
pelo mendigo que dorme gelado no chão, ébrio de desilusão,
farto de consumição, desolado, sem direção.

Um lexotan, por favor,
pela árvore cortada,
pelo monte de gente surtada que circula por aqui, por Paris, São Paulo e Japão.

Um lexotan, por favor,
pelas mulheres mutiladas do Afeganistão.

Um lexotan, por favor,
por quem não olha nos olhos,
por quem não vê ao seu lado
o cara que sofre de fome, de dor e em vão.

Um lexotan,
um lexotan, por favor,
pela inveja, pela maledicência, pela incompreensão dentro de nós, meus camaradas, meus irmãos,
pela mentira que se destila dos discursos da falsa política, da falsa moral, da falsa razão.

Um lexotan, por favor, um lexotan, a quem não vê a verdade como missão.

Um lexotan, um lexotan, por favor,
pela bomba atômica, pelas barragens, pelas linhagens que reproduzem miséria, falso poder e dominação.

Um lexotan, por favor,
pela criança que chora sem saber ainda porque se vive para viver,
pela mulher traída que não sabe que dignidade é amar primeiro si própria e não aquele que lhe paga a pensão.

Por favor, um lexotan,
pelos falsos homens de gravata,
que discursam bravatas em seus púlpitos feitos de ignorância e ilusão.

E por último, só mais um, só mais um lexotan,
por favor,
por quem não vê no amor a redenção.

25 outubro 2011

feiras do livro

O mês de outubro é o mês em que mais nascem pessoas, podem constatar em qualquer maternidade, principalmente na 2a. quinzena, não sei se por sincronismo da natureza, para que as crianças do hemisfério sul passem os primeiros meses de vida longe do rigor do inverno, ou se é devido ao carnaval que é época também natural de arrumação de parceiros. Tenho vários amigos e conhecidos que nasceram na 2a. quinzena de outubro, até minha mulher e eu próprio nascemos na 2a. quinzena deste mês, acho que para dar valor a esta minha teoria.
Além do poeta Carlos Drummond de Andrade, nascido em 31/10. Só de marra nasci também nesse dia, porém 51 anos depois dele.
Mas outubro é também mês em que brotam, em várias cidades do Rio Grande do Sul, as feiras do livro, dentre todas as maiores são: a Jornada Literária de Passo Fundo, a Feira do Livro de Porto Alegre e a Feira do Livro de Caxias do Sul.
Eu diria que esta última é a prima pobre, pois a de Porto Alegre é a maior feira de livro a céu aberto do planeta, a jornada de Passo Fundo não é uma feira, é um evento de literatura que reúne grandes escritores nacionais e há um concurso que premia com prêmios de valores altos os concorrentes vencedores, que habitualmente são grandes escritores de renome nacional.
Este ano participei de maneira mais efetiva da 27a. Feira do Livro de Caxias do Sul.
Conheci alguns escritores que admiro.
O patrono foi o poeta Marco de Menezes. Grande poeta.
Fim de festa. show do Luiz Melodia na praça. O show foi impagável, ele e um violonista. Um artista de primeira grandeza da nossa música. Ele se atrasou quase uma hora, quando havia decidido ir embora ele apareceu. Na primeira música, eu que estava puto da vida com o atraso, já estava relaxado. O show foi sensacional. De graça.
Na feira de Caxias do Sul foram vendidos mais de 84 mil livros em duas semanas de feira.
No dia 08/10 fui à Feira do Livro de Veranópolis, cidade próxima a Caxias do Sul, aqui na serra, do outro lado do Rio das Antas. A viagem tem paisagens belíssimas, com belvederes para se apreciar o vale profundo entalhado pelo rio na rocha basáltica.
Veranópolis é uma cidade de pouco mais de 23 mil habitantes, de colonização predominantemente italiana. Eu diria que é mais um jardim extenso, encravado na serra, do que uma cidade. Um cartão postal vivo no alto da serra. A feira era animada pelo Roger, que é um misto de ator e empresário de arte, a empresa dele fica em Bento Gonçalves, outra cidade lindíssima daqui da serra, entre Caxias do Sul e Veranópolis.
Em Veranópolis tive uma grata surpresa, a livraria Confraria das Letras - tem página na internet se alguém quiser conferir. Um espaço muito bem equipado, com decoração caprichada, café expresso, salgados, espaço reservado a crianças e livros, muitos livros. Em Caxias do Sul não há uma livraria tão agradável e espaçosa como a Confraria das Letras e acredito que somente nas grandes capitais deve haver. A proprietária é a Juliana que nos recebeu, a Sônia e a mim, de maneira muito mais do que simpática. Os banheiros são outra surpresa, a decoração inclui frases de escritores nas paredes. Cidade bonita, livraria bonita. Legal, estamos no Brasil.

26 setembro 2011

Descobertas

Duas descobertas interessantes na última semana de setembro.

descoberta 1 - uma nova espécie de golfinhos foi descoberta na Austrália. Existem pouco mais de 100 espécimes e estão em extinção. Mal foram descobertos e estão em extinção. Se golfinhos, que são animais grandes, que navegam em bandos, foram recentemente descobertos, fico a imaginar o quanto não se tem perdido de formas de vida pequenas que ainda não foram descobertas e já devem ter sido exterminadas pela a ação predatória do ser humano.
É como se você contratasse um jardineiro e em vez de ele tomar conta do jardim, de regar as plantas, podá-las convenientemente, ele passasse a jogar lixo, abrir buracos para retirar terra, cortar arbustos para fazer lenha, caçar passarinhos.
Penso que é mais ou menos o que fazemos com o planeta Terra. Isso me fez lembrar uma frase do Caetano Veloso, em certa ocasião ele disse que veio à Terra a passeio e não a negócio. A humanidade como um todo veio a negócio, que é coisa bem mais rasteira do que cuidar de jardim.

descoberta 2 - um neutrino lançado mais de 15 mil vezes num acelerador de partículas, atingiu velocidade pouco maior do que a velocidade da luz que é de 300 mil km/segundo. Tudo bem que ele alcançou essa distância em 2 bilionésimos de segundo a menos, o que interessa é que foi mais veloz do que a luz. Como o conhecimento científico não é fixo, e o que é tomado como premissa verdadeira hoje pode muito bem ser considerada errônea amanhã, deverá haver revisão nas teorias de Einstein e outros que julgavam a velocidade da luz absoluta.
De minha parte fica a decepção com a Física, por que não deixaram para descobrir isso depois que eu morresse? Não me resta outra alternativa senão abandonar a Física, a Química, a Biologia e todas as outras ciências que tentam explicar a vida e o universo, pois são coisas, aos meus olhos, inexplicáveis, e na literatura abandonei os romances, pelo mesmo motivo que larguei aquelas ciências. Vou me dedicar apenas à Poesia e à Matemática, que não pretendem explicar nada e, além disso, os números não mentem jamais.

26/09/2011

15 setembro 2011

Liquidação

Passados 15 dias do lançamento do livro, me declaro surpreso com as vendas. Além dos 50 vendidos naquela noite, vendi mais 3 exemplares, sendo 2 para a mesma pessoa. Nem os amigos que não foram se aventuraram a comprar o livro. Muitos que me conhecem devem ter pensado: comprar livro escrito por esse cara... Não os culpo por esse julgamento. Sempre dei motivo. As pessoas esperam que poemas cantem o amor, mas me interesso mais pela sedução, pelas paixões doentias, que são temas bem mais interessantes, apesar de que há muito pouco sobre esses temas, no livro, pois trato mais de assuntos do cotidiano.
Escrevi poemas. Escrevi sobre temas que podem interessar a todos e numa linguagem acessível. Alguns dos poemas, coloquei palavras em Latim, Inglês, Espanhol, Tupi. Pura sacanagem, para o leitor pensar que sou um erudito, que tenho autoridade sobre o que escrevo. Leitores podem se espantar com certas cenas, a intenção é causar espanto. Agora que já falei, não deve haver espanto.
O que o leitor vai encontrar nos poemas?
Falação.
Muita falação.
Caos.
Ontem enviei a uma editora mais um volume de poemas para análise. Espero que deem parecer positivo à publicação, o título é Desacreditações Recreativas.
O que o leitor pode esperar?
Falação.
Muita falação.
Caos.

15/09/2011

29 agosto 2011

No meio do livro tinha um palavrão...

Foi mais ou menos o que ouvi sobre o livro Antropologia de Mim, daí resolvi parodiar o poema No Meio do Caminho de Carlos Drummond de Andrade, publicado pela primeira vez na Revista de Antropofagia número 3, em julho de 1928, e, em 1930, pela segunda vez, no primeiro livro do poeta Alguma Poesia. Não por acaso escolhi Drummond para parodiar, como a primeira vista pode parecer, pois nasci em 31 de outubro, assim como ele, porém 51 anos mais tarde, se não é destino, pelo menos é uma coincidência positiva.
"No meio do poema tinha um palavrão..." É assim mesmo: naquele poema da pedra, ele escreveu tinha e não havia como manda a língua canônica. Quem sou eu para não acompanhá-lo?
Mas no meio do livro há dois ou três palavrões, e uma cenazinha rápida que se pode chamar de cena de sexo. Coisiquinha de nada. Uma chupadinha à toa.
O palavrão não é desses usuais, que se fala em momentos de raiva, talvez por esse motivo tenha afrontado algumas pessoas. A cena já é mais usual, creio eu, não posso dizer com certeza porque não fico ao pé das alcovas a observar o que fazem os casais durante a conjunção carnal.
De nada adianta comparar com a indecência na política, que é muito pior do que um palavrãozinho num livro de poemas: as pessoas têm medo de palavrão. Até eu tenho, mas tenho mais medo de político. Pois palavrão é palavrão, e político de fala polida, que se esbalda com dinheiro público, que sabe falar bonito e enganar os incautos, este sim é muito pior do que qualquer obcenidadezinha besta, e contra este nenhuma voz se levanta. Mas as pessoas têm medo de palavrão e admiram o político. Acho que todos almejamos a vida de político.
Explico que escrevo, mas quem fala são os narradores que crio. Um narrador pode ser uma mulher, um velho, um cão, uma criança, um bandido, um maluco, enfim qualquer pessoa, ou bicho, ou planta, ou coisa a quem - ou a quê - se atribui esse papel. Sou assim, não assumo nada e ponho a culpa nos outros. Não sou eu, mas os narradores que são desbocados.
Os narradores são meus filhos literários e eles têm independência e arbítrio para escolherem o que é melhor para si, pois são maiores de idade. É como educar um filho e depois de um tempo descobre-se que ele se envolveu com drogas. O controle dos pais sobre os filhos é parcial, assim acontece na relação entre escritor e narrador.
Fora o fato de eu ter nascido no mesmo dia e mês de Drummond, outra coincidência fortuita e interessante é este livro ser lançado em 1° de setembro, dia em que é celebrado o Dia Mundial do Sport Corinthians Paulista, pois é o dia da fundação do clube. Bem poderia esse dia ser feriado mundial. Conto com as bençãos de São Jorge - santo destituído do grau de santo, graças a Deus -, padroeiro do Corinthians e meu também, assim como também sou devoto de São Gonçalo, o santo mais cara-de-pau que conheço, qualquer dia falo sobre isso.

31/08/2011




24 agosto 2011


22 agosto 2011

Por que escrever?

Já me fizeram a pergunta do título e mais outras. Perguntaram para que escrevo, ou por que escrevo, ou para quem escrevo. Perguntaram se tenho alguma ansiedade que me leva a escrever, como se escrever fosse um processo de cura de alguma ferida da alma. Encaro escrever como se fosse tocar violão, ou jogar futebol.
Gosto de futebol porque sempre joguei, para quem não joga é difícil compreender. Gosto de ler e tomei gosto por escrever porque leio desde sempre.
As pessoas lêem, eu leio. Leio o que alguém escreve. Não consigo decifrar o motivo que leva alguém a contar uma história ou escrever um poema. Leio e escrevo, não levo em conta a minha experiência de vida, mas a de leitura, a do exercício intelectual que é ler, por isso escrevo para quem já lê, quem não lê terá dificuldade de entender o gosto por ler e escrever, tanto quanto quem não joga futebol não entende o gosto pelo esporte. Não escrevo para dar lição de vida,ou outra baboseira desse tipo. Entendo que o que faço são provocações e indagações com a pretensão de desestabilizar o leitor e fazê-lo rever suas certezas.
O que escrevo é poema na forma, mas não é lírico, sentimental, é antes corrosivo. Não ensino nada e coloco tudo em dúvida. Não é confessional. Não é educativo. O objetivo não é escrever bonito, é minar as convicções do leitor, o que, como já disse, é pretensioso de minha parte, mas é o que espero que aconteça com quem lê o que escrevo.
Muitas vezes o que escrevo soa ríspido, pouco sutil e até despudorado, pois o que quero é limar a alma do leitor com lima grossa, pode arder e sangrar, mas depois de um tempo cicatriza. Este é o objetivo: abrir feridas e não curar.
Os poemas de Antropologia de Mim foram escritos na ordem em que se apresentam, não alterei essa ordem por conta de reunir temas semelhantes: foram saindo, e fui escrevendo. Apenas um, muito antigo, que escrevi na década de 1970, se intrometeu no livro, os outros foram escritos do final de 2009 à metade de 2010.
Se alguns poemas provocarem pequenos abalos sísmicos na cachola do leitor, já me dou por satisfeito. Se isso não acontecer, o livro não cumpriu o papel que espero que ele cumpra.
Por outro lado há alguns poemas jocosos, com algum trocadilho e até amorosos.
O livro está disponível para compra no site da Editora Multifoco, ou diretamente comigo, daí o leitor ganha uma dedicatória, apesar de que de nada adianta se o conteúdo for ruim.
Aguardo contato.

22/08/2011

16 agosto 2011

Antropologia de Mim

Antropologia de Mim
(José Otavio Carlomagno – Editora FuturArte – 116 páginas)


A poesia comunica, mesmo sem ser entendida. No entanto, quando consegue dizer algo poderoso, capaz de nos tirar do eixo e nos fazer refletir sobre a vida e sobre nós mesmos, ela alcança um grau mais alto do que a simples concisão e o jogo de palavras, tão apregoados à poesia moderna.
José Otavio Carlomagno não é conhecido de nossos leitores, apesar de ter publicado um livro de contos em Santa Catarina há alguns anos. Mas esta coletânea de poemas, escritos entre 2009 e 2010, caiu em minhas mãos com o impacto de um torpedo. Com versos certeiros, ritmados (ele também é músico) e corajosos (em alguns momentos despudorados), o autor mostra que sabe o que dizer e como dizer. Nós, caxienses, temos orgulho de contar com pelo menos cinco ou seis ótimos poetas. Carlomagno chega para completar a plêiade.

Comentário feito pelo escritor Uili Bergamin em seu blog http://www.uilibergamin.blogspot.com/


16/08/2011

12 agosto 2011

Alemanha 3 x 2 Brasil

Pois é. 3 a 2 para a Alemanha. Jogo ruim. Cada um por si e a falta de futebol por todos da nossa seleção. Mas não é bem disso que quero falar. Disso é o futebol pífio da seleção. Não quero falar sobre Mano "Retranca" Menezes. Ou sobre o que li no blog do Juca Kfouri: que Paulo Henrique Ganso ficou no banco para dar lugar a Fernandinho (quem?) porque este é empresariado pelo empresário do Mano. Sobre André Santos, não jogaria nem no time em que eu jogava no colégio e, se fizesse um fiasco daquele, ainda por cima apanhava. Ou sobre o salto alto do time todo. Ou sobre a falta de conjunto, pois cada um tenta resolver a coisa a seu modo. Ou sobre as falcatruas da CBF e sua cúpula. Ou sobre a torcida alemã que germanicamente gritava um OLÉ latino a cada troca de passes do time alemão.
O jogo foi em Stuttgart. No final, o técnico alemão colocou o brasileiro naturalizado alemão Cacau, jogador de 29 anos, nascido em Santo André/SP. Há alguns anos outro brasileiro já chegara à seleção alemã: Paulo Rink. Cacau foi saudado efusivamente pela torcida entusiasmada com as apresentações do brasileiro pelo time local, que chegou a campeão alemão em 2007. Paulo Rink é descendente de alemães, Cacau, porém, cujo verdadeiro nome é Claudemir Jerônimo Barreto, nada tem de alemão: é de origem pobre, nascido em Santo André/SP. A sabedoria alemã, advinda talvez do sofrimento, permite esse desapego patriótico ufanista. Cacau é muito querido por lá, não somente pelos torcedores do Stuttgart, mas também pelo técnico Joachim Low e todos os jogadores da seleção alemã.
Isso me faz pensar que o Brasil anda a ré não somente no futebol. Sempre nos fizeram pensar que o povo brasileiro não tem preconceitos e que os europeus, e principalmente os alemães, são racistas e preconceituosos. Porém, hoje, vemos políticos, padres e pastores pregando a intolerância contra pobres, gays etc. Contra pobres, sim, porque vivem a pedir pena de morte e prisão perpétua. No Brasil, pena de morte seria aplicada somente para os pobres, garanto que nenhum rico iria para forca, ou fuzilamento: o processo chegaria à corte suprema e tome habeas-corpus, ou nulidade do processo, ou sei lá o quê. Se rico não vai para a cadeia, é de se supor que para a forca não iria em hipótese nenhuma. Motivos para não se mandar um cara rico para a cadeia são fáceis de se encontrar, principalmente nos paraísos fiscais.
Quanto aos gays, eu nunca consegui entender o que um político, ou padre, ou pastor tem a ver com a vida privada dos outros. É a mesma coisa que ficar fazendo campanha porque a mulher do vizinho usa saia curta. Por que a existência daquele que é gay incomoda tanto essas pessoas? O que deve se passar no inconsciente desses caras que se preocupam tanto com a vida dos gays? Bater em minorias sociais é coisa de covarde. Colocar o aparato religioso ou político para atacar minorias é covardia. Porque esses pastores, padres e deputados não saem à rua para protestar pelo assassinato da juíza ontem, dia 11/08/2011, que estava jurada de morte e teve escolta negada pela justiça para a qual ela trabalhava?
Tudo o que escrevi aí em cima é superficial, não vale nada perto do texto de Gilmar Marcílio que li esta semana no jornal Pioneiro de Caxias do Sul, a crônica se chama O Preço da Alma, é um texto claro, lúcido e brilhante, o atalho é este:
http://www.clicrbs.com.br/pioneiro/rs/impressa/11,3420925,1232,17639,impressa.html

12/08/2011

30 julho 2011

Que o mundo se acabe em 2012.

Pelo menos para o Ribamar. Ou que se acabe o mundo para todas as pessoas e ele fique sozinho com seu infame bigode de asa de andorinha. Falo de José Ribamar de Araújo Costa, conhecido pelo vulgo como José Sarney. Este mundo é pequeno demais para nós dois. Descobri isso ao ler no jornal esta semana que ele pretende se aposentar da política em 2014 e dedicar-se exclusivamente à literatura. Por isso quero que o mundo, ou ele, se acabe em 2012 como está previsto. Talvez o vidente que tenha feito esta previsão sabia dessa infausta intenção do Ribamar.
Esse cara tem até uma cadeira naquele asilo fundado por Machado de Assis, no Rio de Janeiro. Mas isso não conta, pois para ser laureado pelo asilo ABL basta ser rico, ou influente, ou político, ou safado. Em qual destes quesitos Ribamar não se enquadra?
Porque Ribamar não se aposenta e vai cuidar do museu que criou para homenagear a si próprio? Isso mesmo, aquele museu que ele criou para si e que recebeu verbas do governo para reformas, ou sei lá o quê, enfim: maracutaia com o dinheiro público.
Lembro que me pediram para resenhar um livro dele Vespas Bêbadas (rebatizei o livro), mas me recusei a lê-lo, fiquei apenas na capa e fiz o infame trocadilho acima. Este é o típico caso de "não li e não gostei" parafraseando alguém de quem não me recordo neste momento.
Outras coisas me vêm na memória:
- a crítica de Millôr Fernandes, em 1988, à "obra" Brejal dos Guajas - entre por este atalho e leia os 11 capítulos da crítica de Millôr http://www2.uol.com.br/millor/aberto/textos/004/007_02.htm - ele escorraça os puxa-saco do Sir Ney - como ele o chama. Neste texto brilhante Millôr se indigna com a cambada de críticos literários e jornalistas a serviço da canalhice nacional.
- o lançamento do livro Honoráveis Bandidos – Um Retrato do Brasil na Era Sarney, dos jornalistas Palmério Dória e Nylton Severiano. Os autores expõem o mar de lama em que vive a família Sarney e como senador pseudo-literato acadêmico consegue se perpetuar no poder, pois esteve ao lado dos militares durante a ditadura, depois virou defensor das diretas e se tornou vice de Tancredo Neves, foi o principal aliado do governo de Lula como presidente do senado.
Durante algum tempo a família Sarney conseguiu que o livro não fosse distribuído no Maranhão. Até que por fim, durante o lançamento do livro, no Sindicato dos Bancários, em São Luís/MA, dia 04/11/2009, os capangas de Sarney invadiram o sindicato e fizeram um quebra-quebra, agrediram estudantes que gritavam o slogan "fora sarney".
Por isso tudo espero que o mundo se acabe em 2012 como está anunciado, ou se para Deus está muito difícil acabar com o mundo, que pelo menos envie Sarney a fazer companhia para o diabo, bem ao diabo não, o capeta não deve ter estômago bom o suficiente para tanta podridão.

31/07/2011

18 julho 2011

Billy Blanco x Paulo Borges

Billy Blanco morreu no dia 08/07. Foi um grande compositor e cantou as cidades do Rio de Janeiro e São Paulo como poucos. Escreveu a Sinfonia do Rio de Janeiro e a Sinfonia Paulistana. Ele era paraense. Era avesso aos modismos e foi parceiro de Baden Powell, Tom Jobim, João Gilberto, mas não dá para dizer que foi compositor de bossanova: a música dele inclinava-se para o samba do morro. Formou-se arquiteto, mas nunca exerceu. Na década de 1970 formou parceria com o violonista Sebastião Tapajós. Quem não se lembra de Tereza da Praia, de Billy Blanco e Tom Jobim, nas vozes de Dick Farney e Lúcio Alves, esta pode-se dizer que era bossanova, talvez mais pelo lado do Tom do que de Billy.
Além dos The Beatles, The Rolling Stones, o samba, o choro, as modas de viola e a bossanova me fizeram companhia na infância. Meu pai era amigo do cantor Risadinha, ele era nosso vizinho, que na década de 1960 vivia entre Rio e São Paulo, esse cara era um baita sambista, tanto que era paulista e fez sucesso no Rio. Eu ouvia rock e música brasileira. Nunca consegui tocar rock, apesar de gostar, gosto dos acordes do samba e transformo os rocks em sambas, ou baião que tem estrutura muito parecida com rock. Fiz o ginásio no Colégio Arquidiocesano, um cara vinha a cada dia com uma música diferente e cantava para nós, era o novidadeiro da turma, trazia os últimos lançamentos da bossanova e cantava, ele fazia a voz do Dick Farney e do Lúcio Alves em Tereza da Praia. Encontrei esse colega depois de 30 anos, já empresário rico, relembrei a ele essas passagens, ele ficou roxo de vergonha, como se tivesse feito um crime bárbaro na juventude: cantar samba e bossanova. Fiquei com pena do cara, acho que o trabalho estafante, a pressão profissional para manter a empresa rica, deterioraram o cérebro desse colega ginásio.
Adeus Billy Blanco.
Paulo Borges morreu dia 15/07. Ponta-direita do Corinthians que marcou um dos gols da vitória de 2x0 sobre o Santos, quebrando o tabu de 11 anos sem vencer o Santos, por coincidência o Corinthians não vencia o Santos desde o início da era Pelé. O outro gol foi do Flávio Gaúcho ou Flávio Minuano, que perdia gols incríveis, mas fazia muitos, estava sempre bem colocado na área. Houve dois jogos, me lembro, e eu fui aos dois. O primeiro, acho que foi numa quarta feira à noite, foi anulado na metade devido ao temporal que caiu e inundou o Pacaembu. O segundo jogo foi na semana seguinte com portões abertos. O Corinthians havia comprado Paulo Borges e Aladim, que fizeram parte do ataque do Bangu, campeão carioca no ano anterior. Aladim não era um ponta típico, caía pelo meio e ajudava a armar o time, é o que se chamava de jogador enceradeira, apesar muito hábil. Paulo Borges também gostava de cair pelo meio, mas sempre em direção ao gol, corria meio desengonçado, o que lhe rendeu o apelido de gazela. Todos gostavam de entrevistá-lo, pois tinha uma voz anasalada e cheia de falsetes, muitos humoristas imitavam a fala dele na tevê e no rádio. Foi um grande craque, jogou na seleção brasileira e saiu para dar lugar a Jairzinho, nunca mais o chamaram. Por esse gol contra o Santos e pelo seu jeito simples logo caiu nas graças da torcida corintiana que jamais o esquecerá.
Adeus Paulo Borges.

18/07/2011

13 julho 2011

Caxias do Sul, por que não?

Já me perguntaram.
Se quero escrever, que é coisa pública, por que não fiquei em São Paulo? Lá não estaria mais próximo das grandes editoras, das revistas literárias, da badalação cultural?
Desde que me mudei de São Paulo para Botucatu, em 1975, para estudar, terminado o curso de agronomia, não mais consegui me adaptar a São Paulo. Ou a outra cidade grande qualquer que seja. Talvez me adaptasse ao Rio de Janeiro se pudesse ficar todos os dias na praia jogando futebol ou futevolei, ou lagarteando ao sol.
Mas um dia passei por Caxias do Sul e cismei com a cidade. Sônia, minha mulher, é de Passo Fundo e tanto ela quanto eu não temos parentes e nem tínhamos conhecidos na cidade. Pensei: uma cidade de 400 mil habitantes, que possui uma orquestra sinfônica, uma orquestra de sopros, umas dez lojas de instrumentos musicais, mais de vinte escolas de música, um time na primeira divisão nacional, deve ser uma boa cidade. O time, hoje, está na quarta divisão, mas as orquestras, as lojas de instrumentos musicais e escolas de música seguem ativas.
O melhor das orquestras é que não se limitam ao repertório tradicional e sempre trazem obras de compositores brasileiros contemporâneos, que quase sempre estão presentes nas apresentações. Outra vantagem é que se alguém cometer um deslize ao tocar, a gente não percebe porque a música é desconhecida. Mas as duas orquestras são excelentes e ainda dão oportunidade a estagiários. A sinfônica é gerida pela universidade e a de sopros pela prefeitura. Os músicos e maestros são do mais alto gabarito. Frequentemente músicos e maestros estrangeiros dão as caras aqui. Foi o que ocorreu na semana passada, a orquestra de sopros foi regida pelo maestro estadunidense - já que americanos também somos - Glen Hemberger e o repertório foi todo de compositores lá da terra dele, nota para os compositores John Williams que é um bom maestro e grande violonista e Gustav Holst, um dos meus compositores americanos - ops, estadunidenses - preferidos.
Essa coisa de badalação cultural não é para mim, ainda não li toda a obra de Guimarães Rosa, preciso de tempo. E depois, esses encontros sempre acontecem aos sábados à noite, justamente quando a tevê mostra umas baitas lutas de MMA.
Mas a cidade é boa.
Moro numa casa boa com quintal, isto para mim é muito importante. A minha terapia preferida é dar enxadada nos canteiros da horta.
Moro perto da "zona do cemitério", reduto de bandidos e traficantes. O nome do bairro não me recordo. Já me afirmaram que nem a polícia entra ali. Em cada entrada do bairro há olheiros.
Perto de casa há o Parque Cinquentenário, nele há uma quadra de futebol de salão, uma de volei de areia e outra de basquete e uma pista de skate. Neste domingo, 10/07, fomos dois de meus sete filhos e eu jogar futebol na quadra. Perto da quadra uns guris que moram na zona do cemitério observavam. Era uma escadinha, o degrau menor devia ter uns 3 anos, havia um de 7, um de 1o, um de 12 e um de 15. O maior subiu um morrinho ao lado da quadra e foi até a avenida Júlio de Castilhos, voltou de lá com uma sacola de tangerinas, ou bergamota como se diz aqui, que comprara num caminhão parado na avenida. - Aí, tio, essas bergamotas são para vocês. Colocou três delas na mureta da quadra. Peguei as frutas e convidei a molecada para jogar conosco. O bebezinho de três anos ficou de fora, num gramado, chupando bergamota. O jogo foi divertido, rimos muito. Notei que eles eram muito cuidadosos conosco e com eles próprios, não se davam entradas bruscas e evitavam choques conosco. O bebê a todo momento chamava alguém e era sempre atendido com carinho por algum dos meninos. Jogamos durante uma hora, o jogo terminou quando o bebê entrou na quadra e disse: - quelo fazê cocô. O mais velho teve de levá-lo ao banheiro que fica do outro lado do parque e todos se foram. Um deles perguntou se não queríamos marcar outro jogo para o próximo domingo de manhã. Se não chover, estaremos lá.

13/07/2011

27 junho 2011

Ato Político

Tenho recebido mensagens com comentários sobre o blog e sugestões de assuntos para que eu faça comentários. O que me cobram são comentários políticos, ou sobre a vida massacrante que todos levamos, escravos de compromissos massantes, ou sobre o cotidiano das pessoas que vivem nas grandes cidades. Tudo por culpa da maldita frase: relaxa e goza, um paradoxo, pois o correto para nós homens é goza e relaxa. Não quero mais falar sobre isso, senão não me sobrará energia suficiente para o exercício do gozo, talvez somente para o relaxamento.
Este blog é dedicado à literatura, ou à realidade vista pela óptica da literatura, da arte, pois para comentários políticos os jornais, revistas e canais de tevê possuem profissionais mais competentes e informados do que eu. Escrevo para promover os livros que escrevo e os dos amigos. Nunca pensei em fazer comentários políticos sobre qualquer assunto, até porque não acredito nesse tipo de política de eterna predação do meio-ambiente como forma de gerir as sociedades.
Busquei a palavra política no dicionário e encontrei: ciência do governo dos povos, arte de dirigir as relações entre os estados. Princípios políticos: astúcia, artifício, civilidade e maneira hábil de agir. A única virtude que encontrei nessa definição é civilidade, pois o restante indica claramente que a política é a arte de passar a perna nos outros. Eu seria político se o sinônimo de política fosse bom-senso. A melhor explicação que tenho para a palavra política é: como atingir o poder e fazer a minha vontade suplantar a do outro. Política e políticos, e quem crê tanto nela quanto neles, têm um único objetivo: atingir o poder e nele se perpetuar. O preço pouco importa. A palavra política vem de polis, palavra grega que significa cidade, política é algo urbano. Também não acredito nas cidades tal como estão postas: gastos exorbitantes de energia, produção monumental de lixo e merda. Quanto maior a cidade, maior é a merda.
Algumas pessoas que enviaram mensagens informam que têm qualidade de vida baixa por conta de compromissos, do governo que não dá jeito no trânsito de São Paulo, ou Rio, ou BH, ou Porto Alegre. Quem pode dar jeito em cidades como estas? O sistema está montado para vender carros, em São Paulo, a cada dia, 600 novos veículos são licenciados. Culpar quem? A ideologia do governo? O partido político? O sistema é comprar, comprar, comprar, então pare de comprar.
A única solução é individual: mude de cidade, ande de bicicleta, ou de ônibus. Desculpas do tipo: não faço, porque de que adianta eu fazer se os outros não fazem? A responsabilidade é individual, tente mudar individualmente, é muito mais difícil do que culpar o governo, ou o atraso do ônibus, ou o salário, ou a falta de tempo etc. Conheço muitas pessoas que, com esforço e coragem, fizeram grandes mudanças em suas vidas e diminuíram enomemente o estresse do dia-a-dia, um deles sou eu.
Por favor: ou literatura, ou música, ou futebol, ou carnaval, não quero me estressar.

27/06/2011

20 junho 2011

Haroldo de Campos Galaxias Crisantempo

Li Galáxias há muitos anos, logo que foi lançado, se não me engano 1986 ou 87. Na época comecei a ler o texto pelo começo, que começa assim: e começo aqui e este começo e recomeço... E por aí vai até a últimas palavras em italiano: ...della doppia danza. A experiência é desconcertante para quem busca o nexo, falo no sentido semântico mesmo. Daí passei a ler páginas escolhidas aleatoriamente: o que ajuda esse tipo de leitura é o fato de as páginas não serem numeradas, é abrir e simplesmente ler, para se retornar a uma página lida, deve-se buscar pela palavra e não pelo número da página. Li não como quem lê poemas e espera um ritmo que lhe salte aos olhos, pois a página não é um poema, é um emaranhado de memórias caóticas, situações, lugares, como se se estivesse num trem em alta velocidade que em poucos minutos passa pelo Marrocos, cruza a Espanha, sobe a alguma constelação, mergulha no mar e sai numa caixa de laranjas podres. É uma poesia em alta velocidade que não sai do lugar, que não veio de nenhum lugar. Essa viagem não tem e nem busca nexo. Não pode ser chamada de fluxo de consciência, porque fluxo indica caminho com sentido e direção, mesmo que esta última mude constantemente, mas no texto de Haroldo a viagem é parada, imóvel, às vezes tem-se a sensação de que as palavras querem correr, mas ficam estáticas. Ler aos poucos é também desconcertante. Experimentei um pé de página, depois saltei várias páginas e li um miolo de página. Neste livro Haroldo abandona a concretude poética e, a mim pareceu, que buscou a catarse poética, no sentido grego de purgação, de purificação. Tudo não faz sentido, mas quem busca sentido?
Esta semana comecei a ler Crisantempo, do mesmo autor, este um livro de poemas, editado em 1998. Li aqui, li ali. Pulei páginas e lá estão seus encontros com Octavio Paz, Roman Jakobson, Ezra Pound. O livro é repleto de signos japoneses, zen-budismos, finezas & grossuras, greguices, latinices. Copiando alguém, que não sei quem, porém com sentido inverso: ainda não li, mas já gostei.

20/06/2011

15 junho 2011

Geração em literatura

Caramba, me esqueci que tinha mais um filho. Nasceu dia 1º de Maio. Ele quer comida - pode ser arial ou times new roman -, quer roupa - alguns parágrafos bastam -, o problema é esse querer sem fim, me arrumei um compromisso sem querer. Meu novo filho chama-se BLOG.
Veio junho e eu me entreguei à preguiça. Eu sabia que esse negócio de escrever em blog é mais ou menos como escrever para jornal, quero dizer bem mais para menos, porque escrevo no blog se quero, o jornalista não pode ter esse direito de querer ou não, pois é o ganha-pão do cara.
Andei lendo O Guardador de Águas de Manoel de Barros, poeta matogrossense contemporâneo da "Geração de 45", mas que a ela não pertencia, apesar de queriam o enquadrar nessa coisa de geração. Algumas perguntas e idéias me ocorreram.
Primeiro o livro e o poeta e depois a geração.
O livro é repleto de água, como o nome diz, mas não de água limpa e cristalina, mas de água servida, suja, às vezes lodosa, as coisas são antes desmolhadas do que molhadas, na visão do poeta, antes cheias de limo do que lustrosas. Águas pantaneiras barrentas. Manoel de Barros era o poeta preferido de Drummond, que dizia que ele era o grande poeta do Brasil. Drummond, por sinal ou por minha sina, permitiu que eu nascesse no mesmo dia em que ele nasceu porém 51 anos depois.
Essa coisa de geração acho uma bobagem. Nunca entendi porque têm de se agrupar os escritores em gerações, muito até gostam disso. Escrever é um ato político de solidão, então o que interessa o que os outros escrevem? Quem segue alguma tendência coloca freio no que faz. Ainda bem que comecei a escrever depois de velho, assim sou de todas as gerações desde que nasci. Aliás me identifico mais com as degenerações dos escritores do que com gerações. Estava lendo Sêneca, um de meus filósofos preferidos, o cara era avançado em sua época e atual sempre, ele é de minha geração então.
Outra bobagem ouvi de uma escritora esta semana. Ela lançou um romance e disse que a cada fala da narradora era como se ela recebesse uma facada no bucho. Que sofreu uma barbaridade escrevendo o livro, foram meses de sofrimento em cima de sofrimento. Já ouvi de vários escritores esse tipo de asneira. Se eu tivesse que sofrer para escrever, ou fazer qualquer coisa, eu não o faria. Imagino essa escritora chorando e encharcando o teclado do computador, ou se escreve à mão, com caneta, enxugando o papel com mata-borrão. Que coisa besta: já não chega o sofrimento que a vida nos impõe, ainda vai o (a ) escritor (a) sofrer para escrever. Vou ler Manoel de Barros, ou Sêneca, ou Boécio. Este último escreveu A Consolação da Filosofia na prisão, enquanto aguardava o cumprimento da sentença que o condenava à morte, nada há nesta obra de triste, de funesto, de choramingança e de sofrimento, ele aguardou a execução da sentença com serenidade, sabedoria e bom humor, assim como Sócrates tomara a cicuta de forma tão natural e desapegada. Não me interessa ler texto de quem sofre para escrever, duvido que saia algo que possa me interessar como a obra destes que citei.

15/06/2011

27 maio 2011

Brasil: relaxa e goza.

Toda vez que ouço o nome de nosso país me lembro do Henfil. Não por causa da rima Brasil-Henfil, mas pelo que ouvi ele dizer em um entrevista na tevê, na década de 1980: 'o Brasil é um desastre'. É verdade, pois a grande maioria dos problemas brasileiros têm suas causas anunciadas muito tempo antes de acontecerem, porém o "fatalismo desastroso" é o que permanece sempre. Eu poderia citar o exemplo de políticos notoriamente corruptos que se elegem continuadamente.
Talvez o leitor pense que vou dizer que o brasileiro almeja a corrupção, deseja privilégios e obter vantagens a qualquer custo pouco se importando com a ética. Que a corrupção assola todos os setores da vida nacional inclusive nos três poderes da república, mesmo nas esferas mais altas. Que na polícia e na política há corrupção, que a maioria dos empresários são corruptos, que a maioria dos sindicatos são corruptos, que as ongs são em sua maioria corruptas. Que nas cortes mais altas há magistrados corruptos. Mas não vou dizer nada disso porque sou pobre e nunca cometi crime algum o que me torna um forte candidato a ir para a cadeia.
E quase fui preso. Recebi uma intimação da delegacia de Caxias do Sul para 'prestar esclarecimentos', porque a Delegacia de Crimes Digitais de São Paulo havia mandado uma carta precatória para que eu fosse ouvido sobre um suposto crime cibernético. O que se imagina quando digo isso é que o tal crime seja aplicar golpe em alguma conta bancária, roubando senhas por meio de programas fraudulentos que se instalam nos computadores das vítimas. Nada disso. Tudo por causa da frase que ficou eternizada na voz de Marta Suplicy: RELAXA E GOZA.
No começo do ano de 2010, o site Terra noticiou que uma juíza federal, de São Paulo, havia dado habeas corpus a uns pobres banqueiros e empresários envolvidos em falcatruas. Pois bem, a coisa não para por aí, o advogado dos empresários e banqueiros e que entrou com o pedido de habeas corpus e que me acusou de difamar a juíza é quem? Surpresa! O MARIDO DA JUÍZA. Não é brincadeira. Talvez ela até despachasse do quarto do casal para dar mais celeridade aos processos judiciais.
Só por este motivo ela devia ter-se dado como impedida para julgar os pedidos de habeas corpus, mas não: aceitou os casos e deferiu todos pedidos de habeas corpus feitos pelo maridão. Coincidentemente todos os pedidos do maridão caíam sempre com a esposa juíza e ela os deferia. O maridão, advogado competente, ficou rico, mas isso é detalhe que não vem ao caso.
Abaixo da notícia, no Terra, há um espaço para comentários. Alguém, que não eu, deve ter tecido comentário sobre a honestidade da juíza e manifestado indignação pela situação do Brasil dos escândalos. Logo abaixo do comentário dessa pessoa, outra pessoa escreveu a frase criminosa: RELAXA E GOZA. Esta frase nem era dirigida à magistrada e nem ao marido advogado competente, mas ao comentarista indignado.
Veio a carta precatória que me acusava de ter pedido a alguém para relaxar e gozar. Perguntei-me: Marta Suplicy pode, outra pessoa não? Agora vem o pior: eu nunca havia lido aquela notícia e nem postado aquele comentário. Jamais soube da existência da magistrada e nem que era casada com causídico tão importante. Na delegacia me informaram que o advogado havia conseguido que outro juiz, talvez amigo do casal, autorizasse a quebra do sigilo dos IP de todos que fizeram comentários no Terra e ali estava meu IP e meu nome, porém o e-mail não era meu, era totalmente estranho.
Pessoas que trabalham na delegacia estavam indignadas com tanta perda de tempo. Alguém comentou que a polícia tem muita dificuldade para conseguir quebrar sigilo telefônico ou de internet de traficantes, assaltantes, ladrões de banco, pois os juízes são muito criteriosos, mas neste caso algum juiz julgou oportuno quebrar o sigilo de IP de todos os comentaristas indignados com o casal, ou dupla.
Ainda não entendi porque o advogado-marido-de-juíza ficou tão indignado e acusou os comentaristas de difamar a juíza, se aquilo era uma notícia publicada no site Terra e jornais da época, eu soube depois. Se é notícia, é pública. Acho que esse advogado nem é tão bom assim, porque se alguém difamou a esposa dele foi toda a imprensa, ele devia ter ingressado na justiça contra os jornais, tevês e sites de informação que deram a notícia. Quem fez comentários não criou ou inventou os fatos, pensando bem ele devia ter entrado na justiça contra si e contra a esposa, pois foram eles que criaram esses fatos.
Até hoje não sei porque meu nome e meu suposto IP, naquele dia, foram envolvidos nisso, pois o e-mail nem era meu e nem de pessoa que eu conheça.
Disseram-me que poderia entrar na justiça para interpelar o site Terra. Daí lembrei de uma causa que ganhei contra o Banco Central e desde 1995 se arrasta na justiça federal, devido aos vários recursos que o banco interpõe para que eu não receba o que me deve. Pensei, melhor não me meter com essa tal de justiça, no Brasil.
Está difícil relaxar e gozar sendo brasileiro, até mesmo com overdose de viagra.

28/05/2011

23 maio 2011

O que veio antes: a

música ou a literatura? Acho que é a música. Imagino aqueles australopitecos reunidos em bando, há pouco mais de dois milhões de anos, daí mamãe autralopiteca não vê por perto o Júnior, um australopitecozinho de pouco menos de cinco anos, ela grita: Juuuuuniiiinhooooo. O grito ecoa e o som volta e confunde a mente da australopitecada toda que estava reunida em torno dos gravetos que virariam fogo à noite, numa região central da Grande Mãe África, supondo que os australopitecos dominavam o fogo.
Um daqueles machos gozadores, o palhaço do grupo, imita a voz feminina e todos caem na risada. Daí todos imitam a voz que chama 'Juninho' e as vozes vão formando acordes, os compassos vão se seguindo. No outro dia o australopiteco gozador lembra-se do eco e novamente entoa Juuuuuniiiiinhooooo, todos o imitam. Esta foi a primeira canção.
Mas havia um outro grupo de australopitecos, na Etiópia, que eram dados a observar pássaros e lhes imitar o canto, o que resultou uma música mais melodiosa. Estes primitivos humanóides tiveram a ideia de fazer instrumentos, como apitos, flautins e rabecas, para imitar a voz dos pássaros e atrair os bichinhos para as arapucas. Neste grupamento de hominídeos surgiu a primeira orquestra e a música instrumental.
Bem, a escrita veio bem depois, depois até das pinturas rupestres. Não sei ao certo, mas acho que de duzentos mil anos para menos, já a música deve ter uns dois milhões de anos.
Logo após a pintura veio a escrita. As pinturas rupestres podem ser consideradas como sendo prenúncio da escrita, pois mostram cenas cotidianas daqueles seres humanos que nos antecederam. Ficou constatado que as pinturas funcionavam como um quadro de avisos: as mulheres, por falta de alfabeto e gramática, faziam desenhos nas pedras para ilustrar as tarefas a serem cumpridas pelos homens diariamente. As mulheres mais velhas orientavam as mais novas a compor os desenhos como se fosse um organograma de trabalho para os homens. Nesses desenhos vê-se homens caçando, pescando, pastoreando, recolhendo lenha. Remonta essa época a má fama das mães das mulheres que ensinavam as filhas a serem megeras dominadoras.
Esqueci de dizer o que aconteceu ao Juninho. Naquele mesmo fim de tarde, a mamãe australopiteca e alguns machos, saíram à procura do guri australopiteco. Seguiram-lhe as pegadas. Deram de cara com um pisoteio desvairado na areia seca da savana africana, num capão de mato, não muito longe, um leopardo janta o último naco do lombo do infante australopiteco Juninho. Mamãe autralopiteca se desespera e põe-se a gritar. O choro vem, ela diz 'meu Juninho', o grupo solidário à dor da mãe chora quase em uníssono. Canção triste. Talvez tenha sido esta a origem do Canto Gregoriano.
Mais triste do que esta história é eu tocando guitarra. Veja aqui www.youtube.com/watch?v=XEcfljJAM1I . Bossanovizei a canção de George Harrison, While My Guitar Gently Weeps.

23/05/2011

15 maio 2011

Ler...

Leio.
Reli recentemente O Tao da Física de Fritjof Capra que traça paralelo entre as idéias budistas e a Física Quântica, principalmente o Princípio da Incerteza de Heisenberg. Li este livro pela primeira vez quando tinha 23 anos e tive a honra de conhecer e frequentar a casa do professor Mário Schenberg, em 1977, ele me indicou o livro. Fui à casa dele convidá-lo a proferir uma palestra em Botucatu, num encontro estudantil sobre ciências da saúde, que na realidade era uma reação de intelectuais atingidos pelo AI-5 à ditadura militar, o que ele aceitou de pronto. Mário Schenberg foi afastado de seu cargo de professor de Física da USP, com a edição do Ato Institucional No. 5, pois era militante do Partido Comunista Brasileiro pelo qual se elegeu deputado federal constituinte em 1946. Mário foi considerado por Einstein como sendo o físico mais brilhante e a mente mais privilegiada de sua geração. Ele morava numa casa ampla no fim da Avenida Doutor Arnaldo, em São Paulo, repleta de obras de arte que ganhava de artistas plásticos, praticamente todas as paredes da casa eram tomadas por quadros, no teto de todas as salas havia muitos quadros pendurados, ele era também crítico de arte. Ele me disse que o conhecimento intuitivo é tão importante quanto o conhecimento científico, acreditava que um pajé era tão importante e eficiente no que fazia quanto um cientista, por isso indicou este livro que faz essa ponte entre ciência e intuição.
Reli também Universo Elegante do astrofísico Brian Greene, sobre a teoria das supercordas. Ele explica também que não há conflito entre a Teoria da Relatividade Geral de Einstein e a Mecânica Quântica, porque a primeira deve ser empregada para explicar "grandes coisas" e a segunda explica "pequenas coisas". Quem se interessa por Física, procure os livros de Greene e Capra, além dos livros de Stephen Hawking.
Meu livro de cabeceira é Aprendendo a Viver do filósofo romano Sêneca, que educou Nero e depois foi por este condenado à morte.
Atualmente estou lendo Ciência Contemplativa de B. Alan Walace, o sub-título já indica o conteúdo: Onde o Budismo e a Neurociência se Encontram. Fragmentos de um Discurso Amoroso de Roland Barthes, O Pensamento Selvagem de Claude Levi-Strauss e um único livro de ficção: As Irmãs Makioka de Jun'Ichiro Tanizaki. Leio um pouco de cada livro e depois o cérebro que dê jeito de separar e organizar as informações.
Na semana passada saí da caverna e fui ao lançamento de um livro de contos, num bar daqui de Caxias do Sul. O escritor se chama Uili Bergamin, ele é tão bom que tem até nome de escritor. Não estou acostumado a esse tipo de evento, mas fui. Ali estava o autor, gravata e colete, simpático e sorridente, distribuía abraços, beijos, e se postava ao lado das pessoas para fotos. Parecia bem comportado como um bancário. Comprei um livro Contos de Amores Vãos, ele autografou. Sábado resolvi ler o livro. Esperava algo como... , nem sei bem o quê, mas muito menos do que é realmente o livro. Acho que esperava algo melado, aí que o livro me pegou. O texto vai dando ligeiras agulhadas no leitor, que quando percebe está todo cheio de hematomas pelo corpo. Eu que escrevo distribuindo porradas, não tinha defesa para escrita tão aguda e ferina como a de Uili Bergamin. A sutileza da escrita de Uili me deixou perplexo, não só da escrita como dele próprio: todos aqueles sorrisos, cara de bonzinho, mas o que ele escreve corrói até o metal mais duro. Acho que a aparência dele era blefe. Pura malandragem refinada. Li o livro e imediatamente o reli, são apenas cento e poucas páginas, fiquei com aquela sensação da pessoa que é roubada sem sentir e ainda sorri ingenuamente ao ladrão que lhe diz 'tenha um bom dia'. Agora estou curioso para ler os outros livros dele. É um nome a ser guardado. Um jovem escritor a ser lido sem medo de se decepcionar.

15/05/2011

10 maio 2011

Escrever...

Para quê?
Para quem?
Caberiam outras perguntas.
Acho que quem escreve se faz essas duas perguntas e muitas outras.
As editoras sempre perguntam a que tipo de público se destina o texto enviado por algum autor para análise.
Sempre me pergunto o que um cara na minha idade pode querer com escrever.
Não tenho uma resposta precisa e definitiva para estas ou outras perguntas desse gênero. Alguém deve ler o que se escreve por aí, senão não haveria tantas livrarias, editoras, escritores e concursos literários.
Sou leitor, e como leitor tenho minhas preferências, sou um dos que formam algum tipo de perfil que as editoras tanto valorizam conhecer e para o qual publicam determinados livros, mas não sei bem qual é o meu perfil, leio obras de diversos estilos e naturezas. Ultimamente tenho lido muita coisa científica e poesia. Meu plano para o segundo semestre é reler a Ilíada e a Odisseia, quando não encontro nada que me interesse corro para elas. Por enquanto estou entretido com lançamento de livros e música.
Talvez este livro Antroplogia de Mim, que será lançado em junho, eu devesse ter lançado há uns 40 anos, não que os poemas ou as ideias nele contida tenham embolorado por o livro estar guardado numa gaveta desde aqueles tempos, esse livro foi todo escrito no segundo semestre do ano passado, mas naquela época eu escrevia poemas e um dia joguei tudo no lixo. Eu tinha uns 20 anos e escrevi uns textos e uns poemas, tinha um amigo que escrevia e publicou um livro que foi muito elogiado pela crítica da época e por Caetano Veloso, isso foi em 1974, eu disse a esse amigo que tinha escrito uns textos, ele leu e disse que tudo era uma merda, hoje acho que não eram merda, mas o cara tinha sido elogiado por Caetano Veloso, pensei devem ser mesmo uma merda. Esse cara nunca mais escreveu nada, hoje é professor universitário publicou uma tese sobre Canudos e mais nada. O livro dele realmente era muito bom.
Na década de 1990 escrevi vários romances, não consegui publicar nenhum, consegui publicar apenas o livro de contos Bodas De Ouro, Editora Argos, este sim tem uns contos que são uma merda. Perguntei a mim próprio: que editor vai ler um romance de trezentas páginas de um ilustre desconhecido? Isto ficou comprovado quando enviei quatro romances a uma editora que me respondeu dois dias depois do recebimento: 'os textos não se enquadram no nosso perfil editorial' , será que eles leram uma mil e trezentas páginas em um dia para chegarem a essa conclusão? Então: textos curtos, como, por exemplo, poemas. Mesmo os mais preguiçosos editores não vão deixar de ler uns poemas que resolvem em poucas linhas. Dito e feito, três editoras se interessaram pelos textos.
Agora preciso encontrar leitores.

10/05/2011

05 maio 2011

Estranhamento

Eu me sinto estranho e deslocado com a proposta deste site de me tornar escritor. Dá a impressão de que escrever é tarefa super-humana, ou para os 'escolhidos'. Escrevi uns livros e penso em dar continuidade a esse processo escrivinhatório. É como cantar - qualquer um canta-, ou mesmo - falar todo mundo fala-, mas daí a ser cantor ou orador tem de se percorrer uma estrada comprida e esburacada como as rodovias brasileiras sem pedágio. Dá para pagar o pedágio e daí a publicar um livro, a distância diminui consideravelmente. Porém deve ser sem graça, deixo este processo a quem tem mais vaidade do que eu, porque quero que o que escrevo tenha "valor literário" ( não sei bem o que é isso, mas me disseram que é assim ). Mesmo que eu achasse lícita esta maneira de ter um livro publicado, não teria grana suficiente para custear o tal pedágio.
O substantivo escritor parece que dá a condição de profissional ao sujeito que escreve, o escritor tem de ser intelectual, saber citar grandes autores é importante. Apesar de ler muito, minha memória sempre foi precária, por mais que tenha lido, os livros de que lembro com grande satisfação são os lidos na infância. Lembro de um em especial: Três Garotos em Férias no Rio Tietê de Francisco de Barros Júnior. Li diversas vezes as aventuras dos três garotos que partiram numa canoa de São Paulo com o tio e o cão perdigueiro. O contato com a selva me fascinava, a sucuri que pega o cão, as pescarias de dourados, surubins, tabaranas, os acampamentos ao logo do rio. Depois li do mesmo autor Três Escoteiros em Férias no Rio Paraná, mais aventuras no mato.
Já nasci farto de São Paulo. Nasci no bairro da Liberdade, na Travessa dos Aflitos, talvez por isso a cidade me causasse tanta aflição. Minha mãe dizia que o meu foi o primeiro ou segundo batizado da Catedral da Sé, que foi inaugurada em 25 de Janeiro de 1954, aniversário da cidade, dia do 4° centenário. Fui batizado em dezembro de 1953, a catedral não tinha nem as torres. Uma das maiores catedrais góticas do mundo, muito bonita, os vitrais são maravilhosos, porém as idéias que se propagam ali nunca me atraíram, pois li, estudei e descobri outros saberes mais interessantes. Mas eu dizia do meu fastio de São Paulo, eu era um rato de esgoto urbano descontente com a cidade. Nas férias escolares, minha família passava em Taquaritinga, na casa dos meus avós maternos, no quintal da casa deles eu fazia lavouras de milho, de abóbora e melancia, eu me sentava no pé da mangueira e ficava tempo sentindo o cheiro da terra e a umidade fria que brotava da terra. Fiz agronomia em Botucatu, no começo sofri com minhas idéias urbanas obsoletas e incabíveis numa cidade interiorana, depois entrei no ritmo da cidade, e sofri quando me formei e tive de ir embora. De vez em quando olho a foto da república Muquifo, que foi uma escola de vida para mim.
Exerci diversas atividades e nunca finquei o pé numa carreira, sempre quis conhecer tudo, alcançar tudo. Agora escritor. Vamos ver no que dá. Em junho sai meu quarto livro, Antropologia de Mim. Os poemas deste livro podem ser lidos na sala, como se fazia antigamente nos saraus, alguns contém um pouco de sacanagem, mas advirto a todos tudo que está ali é mentira. Sempre gostei de mentir, descobri que o bom escritor é sempre um grande mentiroso, grande mentiroso é aquele que mente e todos pensam que ele diz a verdade até sobre si próprio. Tudo que digo no livro é verdade, dito de maneira mentirosa. Nada é sobre mim, apenas uma colagem de diversos eus.

05/05/2011

02 maio 2011

Até os bons escritores morrem, mas quem se lembra deles

Pois é, morreu Ernesto Sabato, aos 99 anos. Considerado um dos três pilares da literatura argentina, os outros dois são Cortázar e Borges. Li apenas dois livros de Sabato, na década de 1970: O Túnel e Sobre Heróis e Tumbas. Gostei muito mais do primeiro, uma novela escrita em primeira pessoa, o segundo é um romance com personagens históricos da Argentina.
Cortázar lançava um ou mais livros anualmente, nos anos 1970, o que fez eu me ligar mais à literatura deste, e também por ser uma literatura de delírios, isto me atrai.
Sabato e Cortázar eram da mesma geração, falo de cronologia apenas, porque esse hábito de se comparar estilo de escritores tomando-se por base a "geração" a qual pertencem pode levar a um erro de análise. Para mim é apenas a mania fazer de padronizações simplistas que todos temos. Se isso fosse válido, bastaria ler uma obra de um escritor de uma determinada época e tudo estaria desvendado. Eu estaria excluído da literatura, já que comecei a escrever quando a maioria se aposenta, aí fica a pergunta: pertenço a qual geração? Se puder escolher sempre pertenço ao dia atual, porque mesmo sendo pior, o dia de hoje é melhor do que o de ontem, afinal é o dia que temos.
Outra coisa que me ligou a Cortázar foi a dedicatória que ele fez para o disco A Un Semejante de Susana Rinaldi, em 1976, Susana é para mim a melhor cantora de tangos.
Sábato formou-se em Física e era artista plástico, acho que devia ser um palpiteiro como eu: sou formado engenheiro agrônomo, já joguei futebol ( bom de bola ), fui professor de Física, Química e Matemática ( péssimo professor ), sou metido a violonista e violeiro ( inseguro ), além de escritor ( me safo ).
Não vou falar sobre Borges porque não tenho estatura intelectual para tanto, li suas Obras Completas e em cada conto há um universo fantástico. Acho interessante o fato de ele ser considerado o maior escritor argentino e nunca ter escrito um romance ou novela, somente textos curtos.
Susana teve de se exilar em Paris, na época da ditadura militar na Argentina, Cortázar já vivia lá. Cortázar participava da Comissão Bertrand Russell, instalada em Roma, para apurar os crimes da ditadura argentina. Ernesto Sabato escreveu Nunca Mais que denunciava os crimes da ditadura e foi o estopim para apuração desses crimes.
Escritores nunca foram bem vistos em época alguma, poetas menos ainda, entretanto o livro de Sabato, Nunca Mais, lançado em 1980, foi a enzima catalisadora do fim da ditadura.
Tudo isto para dizer que escritor é azarado até quando morre, ninguém fala da morte de Sabato, deu azar de morrer um dia antes do Bin Laden. Sobre esse azar de escritor escrevi um artigo que foi publicado no jornal A Notícia de Joinville, quando morreu o poeta Mario Quintana, pois ele deu o azar de morrer na semana em que morreu Ayrton Senna. Ninguém ficou sabendo que ele morrera, talvez nem tenha morrido, talvez esteja por aí, passeando pelo centro de Porto Alegre, talvez tenha se transformado no passarinho que ele tanto quis ser.

02/05/2011

01 maio 2011

O carrasco da Editora Multifoco

Virei blog.
Eu não queria por preguiça, pois é mais um compromisso dentre os tantos que não tenho. Porém o editor me obrigou. O nome do carrasco é Frodo Oliveira, a editora se chama Multifoco. Obedeço porque não é sempre que aparece alguém que decide publicar o que escrevo. O último que me deu essa oportunidade se chama Valdir Prigol, da Editora Argos da Universidade de Chapecó/SC, que há 10 anos publicou o livro de contos Bodas de Ouro, esta editora atualmente publica apenas livros técnicos e teses da própria universidade. Talvez o fato de não ter vendido nenhum exemplar de Bodas de Ouro tenha contribuído para essa decisão.
Frodo me disse que não posso ser 'escritor ermitão'. Ele não sabe, mas me senti bem sendo comparado a um ermitão, ermitão mesmo, aquele que mora em caverna. Até porque já vivi dessa forma por alguns meses, na Praia do Cachadaço em Parati/RJ, Passei um verão inteiro numa caverna que há no morro no final da praia, talvez essa caverna nem mais exista, faz muito tempo, não sei se a especulação imobiliária chegou a essa praia. Lembro que tomava banho numa bica, quando voltei a São Paulo tive a sensação de que era pela primeira vez que chegava a uma cidade.
A Editora Multifoco vai publicar um livro de poemas de minha autoria que se chama Antroplogia de Mim, preciso sair da caverna para divulgá-lo. Ele me disse "divulgue aos parentes, amigos, conhecidos". Conheço pessoas e pessoas, talvez a maioria fique chocada com o que escrevo e talvez isso atrapalhe o relacionamento que mantemos em outras áreas.
Mas escrevi poemas que chocam ou pelo menos com a intenção de chocar? Alguns sim outros não. Os sim são meras constatações sobre o funcionamento geral das pessoas e isso pode ser um choque, não de alta amperagem que mata, mas de alta voltagem que derruba e o indivíduo pode se machucar devido ao tombo. Porém minha intenção não é ferir, mas somente causar um pruridozinho no cérebro do vivente que ler o livro. Antropologia de Mim tem alguns poemas que são somente um exercício de lógica a apontar algumas contradições da alma humana. As contradições eu busco dentro de mim próprio, sem muito esforço: sou um poço cheio delas, é fácil.
Vamos ao trabalho, então.

PS: se o Frodo soubesse que aqui em casa temos fogão a lenha para cozinhar e aquecer o ambiente, teria certeza de que sou muito mais ermitão do que imagina.

José Otavio Carlomagno

1° de maio de 2011 - coincidentemente Dia do Trabalho.