29 agosto 2011

No meio do livro tinha um palavrão...

Foi mais ou menos o que ouvi sobre o livro Antropologia de Mim, daí resolvi parodiar o poema No Meio do Caminho de Carlos Drummond de Andrade, publicado pela primeira vez na Revista de Antropofagia número 3, em julho de 1928, e, em 1930, pela segunda vez, no primeiro livro do poeta Alguma Poesia. Não por acaso escolhi Drummond para parodiar, como a primeira vista pode parecer, pois nasci em 31 de outubro, assim como ele, porém 51 anos mais tarde, se não é destino, pelo menos é uma coincidência positiva.
"No meio do poema tinha um palavrão..." É assim mesmo: naquele poema da pedra, ele escreveu tinha e não havia como manda a língua canônica. Quem sou eu para não acompanhá-lo?
Mas no meio do livro há dois ou três palavrões, e uma cenazinha rápida que se pode chamar de cena de sexo. Coisiquinha de nada. Uma chupadinha à toa.
O palavrão não é desses usuais, que se fala em momentos de raiva, talvez por esse motivo tenha afrontado algumas pessoas. A cena já é mais usual, creio eu, não posso dizer com certeza porque não fico ao pé das alcovas a observar o que fazem os casais durante a conjunção carnal.
De nada adianta comparar com a indecência na política, que é muito pior do que um palavrãozinho num livro de poemas: as pessoas têm medo de palavrão. Até eu tenho, mas tenho mais medo de político. Pois palavrão é palavrão, e político de fala polida, que se esbalda com dinheiro público, que sabe falar bonito e enganar os incautos, este sim é muito pior do que qualquer obcenidadezinha besta, e contra este nenhuma voz se levanta. Mas as pessoas têm medo de palavrão e admiram o político. Acho que todos almejamos a vida de político.
Explico que escrevo, mas quem fala são os narradores que crio. Um narrador pode ser uma mulher, um velho, um cão, uma criança, um bandido, um maluco, enfim qualquer pessoa, ou bicho, ou planta, ou coisa a quem - ou a quê - se atribui esse papel. Sou assim, não assumo nada e ponho a culpa nos outros. Não sou eu, mas os narradores que são desbocados.
Os narradores são meus filhos literários e eles têm independência e arbítrio para escolherem o que é melhor para si, pois são maiores de idade. É como educar um filho e depois de um tempo descobre-se que ele se envolveu com drogas. O controle dos pais sobre os filhos é parcial, assim acontece na relação entre escritor e narrador.
Fora o fato de eu ter nascido no mesmo dia e mês de Drummond, outra coincidência fortuita e interessante é este livro ser lançado em 1° de setembro, dia em que é celebrado o Dia Mundial do Sport Corinthians Paulista, pois é o dia da fundação do clube. Bem poderia esse dia ser feriado mundial. Conto com as bençãos de São Jorge - santo destituído do grau de santo, graças a Deus -, padroeiro do Corinthians e meu também, assim como também sou devoto de São Gonçalo, o santo mais cara-de-pau que conheço, qualquer dia falo sobre isso.

31/08/2011




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