13 julho 2011

Caxias do Sul, por que não?

Já me perguntaram.
Se quero escrever, que é coisa pública, por que não fiquei em São Paulo? Lá não estaria mais próximo das grandes editoras, das revistas literárias, da badalação cultural?
Desde que me mudei de São Paulo para Botucatu, em 1975, para estudar, terminado o curso de agronomia, não mais consegui me adaptar a São Paulo. Ou a outra cidade grande qualquer que seja. Talvez me adaptasse ao Rio de Janeiro se pudesse ficar todos os dias na praia jogando futebol ou futevolei, ou lagarteando ao sol.
Mas um dia passei por Caxias do Sul e cismei com a cidade. Sônia, minha mulher, é de Passo Fundo e tanto ela quanto eu não temos parentes e nem tínhamos conhecidos na cidade. Pensei: uma cidade de 400 mil habitantes, que possui uma orquestra sinfônica, uma orquestra de sopros, umas dez lojas de instrumentos musicais, mais de vinte escolas de música, um time na primeira divisão nacional, deve ser uma boa cidade. O time, hoje, está na quarta divisão, mas as orquestras, as lojas de instrumentos musicais e escolas de música seguem ativas.
O melhor das orquestras é que não se limitam ao repertório tradicional e sempre trazem obras de compositores brasileiros contemporâneos, que quase sempre estão presentes nas apresentações. Outra vantagem é que se alguém cometer um deslize ao tocar, a gente não percebe porque a música é desconhecida. Mas as duas orquestras são excelentes e ainda dão oportunidade a estagiários. A sinfônica é gerida pela universidade e a de sopros pela prefeitura. Os músicos e maestros são do mais alto gabarito. Frequentemente músicos e maestros estrangeiros dão as caras aqui. Foi o que ocorreu na semana passada, a orquestra de sopros foi regida pelo maestro estadunidense - já que americanos também somos - Glen Hemberger e o repertório foi todo de compositores lá da terra dele, nota para os compositores John Williams que é um bom maestro e grande violonista e Gustav Holst, um dos meus compositores americanos - ops, estadunidenses - preferidos.
Essa coisa de badalação cultural não é para mim, ainda não li toda a obra de Guimarães Rosa, preciso de tempo. E depois, esses encontros sempre acontecem aos sábados à noite, justamente quando a tevê mostra umas baitas lutas de MMA.
Mas a cidade é boa.
Moro numa casa boa com quintal, isto para mim é muito importante. A minha terapia preferida é dar enxadada nos canteiros da horta.
Moro perto da "zona do cemitério", reduto de bandidos e traficantes. O nome do bairro não me recordo. Já me afirmaram que nem a polícia entra ali. Em cada entrada do bairro há olheiros.
Perto de casa há o Parque Cinquentenário, nele há uma quadra de futebol de salão, uma de volei de areia e outra de basquete e uma pista de skate. Neste domingo, 10/07, fomos dois de meus sete filhos e eu jogar futebol na quadra. Perto da quadra uns guris que moram na zona do cemitério observavam. Era uma escadinha, o degrau menor devia ter uns 3 anos, havia um de 7, um de 1o, um de 12 e um de 15. O maior subiu um morrinho ao lado da quadra e foi até a avenida Júlio de Castilhos, voltou de lá com uma sacola de tangerinas, ou bergamota como se diz aqui, que comprara num caminhão parado na avenida. - Aí, tio, essas bergamotas são para vocês. Colocou três delas na mureta da quadra. Peguei as frutas e convidei a molecada para jogar conosco. O bebezinho de três anos ficou de fora, num gramado, chupando bergamota. O jogo foi divertido, rimos muito. Notei que eles eram muito cuidadosos conosco e com eles próprios, não se davam entradas bruscas e evitavam choques conosco. O bebê a todo momento chamava alguém e era sempre atendido com carinho por algum dos meninos. Jogamos durante uma hora, o jogo terminou quando o bebê entrou na quadra e disse: - quelo fazê cocô. O mais velho teve de levá-lo ao banheiro que fica do outro lado do parque e todos se foram. Um deles perguntou se não queríamos marcar outro jogo para o próximo domingo de manhã. Se não chover, estaremos lá.

13/07/2011

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