02 maio 2011

Até os bons escritores morrem, mas quem se lembra deles

Pois é, morreu Ernesto Sabato, aos 99 anos. Considerado um dos três pilares da literatura argentina, os outros dois são Cortázar e Borges. Li apenas dois livros de Sabato, na década de 1970: O Túnel e Sobre Heróis e Tumbas. Gostei muito mais do primeiro, uma novela escrita em primeira pessoa, o segundo é um romance com personagens históricos da Argentina.
Cortázar lançava um ou mais livros anualmente, nos anos 1970, o que fez eu me ligar mais à literatura deste, e também por ser uma literatura de delírios, isto me atrai.
Sabato e Cortázar eram da mesma geração, falo de cronologia apenas, porque esse hábito de se comparar estilo de escritores tomando-se por base a "geração" a qual pertencem pode levar a um erro de análise. Para mim é apenas a mania fazer de padronizações simplistas que todos temos. Se isso fosse válido, bastaria ler uma obra de um escritor de uma determinada época e tudo estaria desvendado. Eu estaria excluído da literatura, já que comecei a escrever quando a maioria se aposenta, aí fica a pergunta: pertenço a qual geração? Se puder escolher sempre pertenço ao dia atual, porque mesmo sendo pior, o dia de hoje é melhor do que o de ontem, afinal é o dia que temos.
Outra coisa que me ligou a Cortázar foi a dedicatória que ele fez para o disco A Un Semejante de Susana Rinaldi, em 1976, Susana é para mim a melhor cantora de tangos.
Sábato formou-se em Física e era artista plástico, acho que devia ser um palpiteiro como eu: sou formado engenheiro agrônomo, já joguei futebol ( bom de bola ), fui professor de Física, Química e Matemática ( péssimo professor ), sou metido a violonista e violeiro ( inseguro ), além de escritor ( me safo ).
Não vou falar sobre Borges porque não tenho estatura intelectual para tanto, li suas Obras Completas e em cada conto há um universo fantástico. Acho interessante o fato de ele ser considerado o maior escritor argentino e nunca ter escrito um romance ou novela, somente textos curtos.
Susana teve de se exilar em Paris, na época da ditadura militar na Argentina, Cortázar já vivia lá. Cortázar participava da Comissão Bertrand Russell, instalada em Roma, para apurar os crimes da ditadura argentina. Ernesto Sabato escreveu Nunca Mais que denunciava os crimes da ditadura e foi o estopim para apuração desses crimes.
Escritores nunca foram bem vistos em época alguma, poetas menos ainda, entretanto o livro de Sabato, Nunca Mais, lançado em 1980, foi a enzima catalisadora do fim da ditadura.
Tudo isto para dizer que escritor é azarado até quando morre, ninguém fala da morte de Sabato, deu azar de morrer um dia antes do Bin Laden. Sobre esse azar de escritor escrevi um artigo que foi publicado no jornal A Notícia de Joinville, quando morreu o poeta Mario Quintana, pois ele deu o azar de morrer na semana em que morreu Ayrton Senna. Ninguém ficou sabendo que ele morrera, talvez nem tenha morrido, talvez esteja por aí, passeando pelo centro de Porto Alegre, talvez tenha se transformado no passarinho que ele tanto quis ser.

02/05/2011

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