20 junho 2011

Haroldo de Campos Galaxias Crisantempo

Li Galáxias há muitos anos, logo que foi lançado, se não me engano 1986 ou 87. Na época comecei a ler o texto pelo começo, que começa assim: e começo aqui e este começo e recomeço... E por aí vai até a últimas palavras em italiano: ...della doppia danza. A experiência é desconcertante para quem busca o nexo, falo no sentido semântico mesmo. Daí passei a ler páginas escolhidas aleatoriamente: o que ajuda esse tipo de leitura é o fato de as páginas não serem numeradas, é abrir e simplesmente ler, para se retornar a uma página lida, deve-se buscar pela palavra e não pelo número da página. Li não como quem lê poemas e espera um ritmo que lhe salte aos olhos, pois a página não é um poema, é um emaranhado de memórias caóticas, situações, lugares, como se se estivesse num trem em alta velocidade que em poucos minutos passa pelo Marrocos, cruza a Espanha, sobe a alguma constelação, mergulha no mar e sai numa caixa de laranjas podres. É uma poesia em alta velocidade que não sai do lugar, que não veio de nenhum lugar. Essa viagem não tem e nem busca nexo. Não pode ser chamada de fluxo de consciência, porque fluxo indica caminho com sentido e direção, mesmo que esta última mude constantemente, mas no texto de Haroldo a viagem é parada, imóvel, às vezes tem-se a sensação de que as palavras querem correr, mas ficam estáticas. Ler aos poucos é também desconcertante. Experimentei um pé de página, depois saltei várias páginas e li um miolo de página. Neste livro Haroldo abandona a concretude poética e, a mim pareceu, que buscou a catarse poética, no sentido grego de purgação, de purificação. Tudo não faz sentido, mas quem busca sentido?
Esta semana comecei a ler Crisantempo, do mesmo autor, este um livro de poemas, editado em 1998. Li aqui, li ali. Pulei páginas e lá estão seus encontros com Octavio Paz, Roman Jakobson, Ezra Pound. O livro é repleto de signos japoneses, zen-budismos, finezas & grossuras, greguices, latinices. Copiando alguém, que não sei quem, porém com sentido inverso: ainda não li, mas já gostei.

20/06/2011

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